quarta-feira, 15 de abril de 2009

Primeiro dia – 13 de fevereiro

· Graça Aranha, líder oficial do movimento e membro da ABL, profere palestra A emoção estética na Arte Moderna, ilustrada por uma peça musical de Eric Satie (paródia irreverente da Marcha Fúnebre, de Chopin, executada ao piano por Ernâni Braga.

· Declamação de poemas modernistas por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.

· Ronald de Carvalho fala sobre A Pintura e a Escultura Moderna no Brasil, seguido de solos de piano interpretados por Ernâni Braga, além de três danças africanas, de Villa Lobos.

· Guiomar de Novaes, considerada uma virtuosa no piano, reclama da sátira de Choppin .

Segundo dia – 15 de fevereiro

Todos esperam algazarra, reação contrária do público. Menotti del Picchia, em seu discurso, prevê que os conservadores desejam enforcá-los um a um, nos finos assobios de suas vaias, mas assim mesmo ele desfia o ideário do grupo em sua fala.

Em represália às vaias, Ronald de Carvalho declama o poema Os Sapos, de Manuel Bandeira.

OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.

· Municipal estava aberto desde o início da tarde para o público visitar a mostra de artes plásticas e arquitetura, montada no saguão do Teatro. Diante das telas a reação dominante foi o choque e a indignação. Também as esculturas de Brecheret não mereceram do “respeitável público” outro comentário que não fosse a crítica intolerante e preconceituosa.

Apresentação de dança de Ivonne Daumerie e com a apresentação de Guiomar Novaes “querida pela platéia paulista”, fez-se o silêncio. A vaia retoma quando Mário de Andrade, em pé na escadaria interna do Teatro Municipal, lê algumas páginas de A Escrava que não é Isaura, esboço de um futuro trabalho sobre poética moderna.

A 2ª parte do segundo festival programou uma conferência do folclorista e crítico musical Renato de Almeida: Perennis Poesia, retumbante gozação ao culto das rimas ricas, à poesia de fita métrica, escrita em rançosa linguagem lusitanizante.

Quando Heitor Villa-Lobos, como bom maestro, entra no palco usando a devida casaca, mas arrastando chinelos e um guarda-chuva como bengala, o público volta a latir, indignado com o acinte desta atitude futurista. E não era nada disso: casualmente, o compositor fora atacado de ácido úrico nos pés e não podia calçar sapatos.

Último dia – 17 de fevereiro

A tranqüilidade prevaleceu, com apenas metade do público aplaudindo o programa musical, baseado num repertório já conhecido de Villa-Lobos.

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