quarta-feira, 15 de abril de 2009

IMAGENS










ALGUMAS OBRAS





































EPIGRAMA



Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos...

Há salteadores amáveis pelo teu caminho.
Repara como é doce o teu vizinho,
repara como é suave o olhar do teu vizinho,

e como são longas, discretas, as suas mãos...

UMA NOITE EM LOS ANDES



"Naquela noite de Los
Andes eu amei como nunca o Brasil.

De repente,
Um cheiro de Bogari, um cheiro de varanda
carioca balançou no ar...

Vinha não sei de onde o murmúrio de um
córrego tranqüilo,
escorregando como um lagarto pela terra
molhada.

A sombra vestia uma frescura de folhas
úmidas.

Um vagalume grosso correu no mato.
Queimou-se no sereno.

Eu fiquei olhando uma porção de cousas
doces maternais...

Eu fiquei olhando, longo tempo o céu da
noite chilena as quatro estrelas de um
cruzeiro pendurado fora do lugar..."

ADVERTÊNCIA







Europeu!
Nos tabuleiros de xadrez da tua aldeia,
na tua casa de madeira, pequenina, coberta de hera,
na tua casa de pinhões e beirais, vigiada por filas de cercas
[paralelas, com trepadeiras moles balançando
[e florindo;
na tua sala de jantar, junto do fogão de azulejos, cheirando a
[resina de pinheiro e faia,
na tua sala de jantar, em que os teus avós leram a Bíblia e
[discutiram casamentos, colheitas e enterros,
entre as tuas arcas bojudas e pretas, com lãs felpudas e linhos
[encardidos, colares, gravuras, papéis
[graves e moedas roubadas ao inútil
[maravilhoso;
diante do teu riacho, mais antigo que as Cruzadas, desse teu
[riacho serviçal, que engorda trutas e
[carpas;

Europeu!
Em frente da tua paisagem, dessa tua paisagem com estradas,
[quintalejos, campanários e burgos, que
[cabe toda na bola de vidro do teu
[jardim;
diante dessas tuas árvores que conheces pelo nome- o carvalho
[do açude, o choupo do ferreiro, a tília
[da ponte — que conheces pelo nome
[como os teus cães, os teus jumentos e as
[tuas vacas;

Europeu! filho da obediência, da economia e do bom senso,
tu não sabes o que é ser Americano!
Ah! os tumultos do nosso sangue temperado em saltos e disparadas
[sobre pampas, savanas, planaltos,
[caatingas onde estouram boiadas tontas,
[onde estouram batuques de cascos, tropel
[de patas, torvelinho de chifres!
Alegria virgem das voltas que o laço dá na coxilha verde,
Alegria virgem de rios-mares, enxurradas, planícies cósmicas,
[picos e grimpas, terras livres, ares livres,
[florestas sem lei!
Alegria de inventar, de descobrir, de correr!
Alegria de criar o caminho com a planta do pé!

Europeu!
Nessa maré de massas informes, onde as raças e as línguas se
[dissolvem,
o nosso espírito áspero e ingênuo flutua sobre as cousas, sobre
[todas as cousas divinamente rudes, onde
[bóia a luz selvagem do dia americano!


Publicado no livro Toda a América (1926).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.187-188. (Manancial, 44)

BRASIL






Nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
faíscas
cintilações
Eu ouço o canto enorme do Brasil!


(...)

Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando,
[vociferando!
Redes que se balançam,
sereias que apitam,
usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam e
[roncam,
tubos que explodem,
guindastes que giram,
rodas que batem,
trilhos que trepidam,
rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos,
aboiados
[e mugidos,
repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro-Preto, Bahia,
[Congonhas, Sabará,
vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no
sertão!

Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar...
a conversa dos fazendeiros nos cafezais,
a conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
a conversa dos operários nos fornos de aço,
a conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias
a conversa dos coronéis nas varandas das roças...

Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
brilhos
faíscas
cintilações
é o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus

berços,
[onde dorme, com a boca escorrendo leite,
[moreno, confiante,
o homem de amanhã!


Publicado no livro Toda a América (1926).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.188-190. (Manancial, 44)

ÉCLOGA TROPICAL






Entre a chuva de ouro das carambolas
e o veludo polido das jabuticabas,
sobre o gramado morno,
onde voam borboletas e besouros,
sobre o gramado lustroso
onde pulam gafanhotos de asas verdes e vermelhas,

Salta uma ronda de crianças!
O ar é todo perfume,
perfume tépido de ervas, raízes e folhagens.

O ar cheira a mel de abelhas...

E há nos olhos castanhos das crianças
a doçura e o travor das resinas selvagens,
e há nas suas vozes agudas e dissonantes
um áureo rumor de flautas, de trilos, de zumbidos
e de águas buliçosas...


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.167. (Manancial, 44)

ENTRE BUENOS AIRES E MENDOZA







(...)

Onde estão os teus poetas, América?

Onde estão eles que não vêem o alarido
construtor dos teus portos,
onde estão eles que não vêem essas bocas
marítimas que te alimentam de
homens,
que atulham de combustível as fornalhas
dos teus caldeamentos,
onde estão eles que não vêem todas essas
proas entusiasmadas,
e esses guindastes e essas gruas que se
cruzam,
e essas bandeiras que trazem a maresia
dos fiordes e dos golfos,
e essas quilhas e esses cascos veteranos
que romperam ciclones e pampeiros,
e esses mastros que se desarticulam,
e essas cabeças nórdicas e mediterrânicas,
que os teus mormaços vão fundir em
bronze,
e esses olhos boreais encharcados de luz
e de verdura,
e esses cabelos muito finos que procriarão
cabelos muito crespos,
e todos esses pés que fecundarão os teus
desertos!

Teus poetas não são dessa raça de servos
que dançam no compasso de gregos
e latinos,
teus poetas devem ter as mãos sujas de
terra, de seiva e limo,
as mãos da criação!
E inocência para adivinhar os teus
prodígios.
e agilidade para correr por todo o teu
corpo de ferro, de carvão, de cobre, de
ouro, de trigais, milharais e cafezais!

Teu poeta será ágil e inocente, América!
a alegria será a sua sabedoria,
a liberdade será a sua sabedoria,
e sua poesia será o vagido da tua própria
substância, América, da tua própria
substância lírica e numerosa.

Do teu tumulto ele arrancará uma energia
submissa,
e no seu molde múltiplo todas as formas
caberão,
e tudo será poesia na força da sua
inocência.

América, teus poetas não são dessa raça
de servos que dançam no compasso de
gregos e latinos!

(...)


Publicado no livro Toda a América (1926).In: CARVALHO, Ronald. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. p.52-60. (Nossos clássicos, 45)

ÉPURA






Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!
Curvas de trilhas,
triângulos de asas,
bolas de cor...

Círculos de sombras agachadas entre as árvores,
cilindros de troncos embebidos na luz.

Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!

Melancolicamente, nesta alegria geométrica,
pingando bilhas polidas,
o leque das bananeiras abana o ar da manhã...


Publicado no livro Jogos Pueris (1926).In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.63.

FILOSOFIA







A realidade é apenas
um milagre da nossa fantasia...

Transforma numa Eternidade

o teu rápido instante de alegria!
Ama, chora, sorri... e dormirás sem penas,
porque foi bela a tua realidade.


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.174. (Manancial, 44)

INTERIOR







Poeta dos trópicos, tua sala de jantar
é simples e modesta como um tranqüilo pomar;

no aquário transparente, cheio de água limosa,
nadam peixes vermelhos, dourados e cor de rosa;

entra pelas verdes venezianas uma poeira luminosa,
uma poeira de sol, trêmula e silenciosa,

uma poeira de luz que aumenta a solidão.

Abre a tua janela de par em par. Lá fora, sob o céu de verão,
Todas as árvores estão cantando! Cada folha
é um pássaro, cada folha é uma cigarra, cada folha é um som...
O ar das chácaras cheira a capim melado,
a ervas pisadas, a baunilha, a mato quente e abafado.

Poeta dos trópicos,
dá-me no teu copo de vidro colorido um gole d’água.
(Como é linda a paisagem no cristal de um copo d’água!)


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.34.

MEIO-DIA






Choque de claridades
Palmas paradas
Brilhos saltando nas pedras enxutas.
Batendo de chofre na luz
as andorinhas levam o sol na ponta das asas!


Publicado no livro Jogos Pueris (1926).In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.62.

SABEDORIA






Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!

Faze da tua realidade

uma obra de beleza

Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece...


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.176. (Manancial, 44)

VENTO NOTURNO




Volúpia do vento noturno,
do vento que vem das montanhas e das ondas,
do vento que espalha no espaço o cheiro das resinas,
a exalação da maresia e do mato virgem,
das mangas maduras,
das magnólias e das laranjas,
dos lírios do brejo e das praias úmidas.

Volúpia do vento noturno nas noites tropicais,
quando o brilho das estrelas é fixo, duro,
quando sobe da terra um hálito quente, abafado,
e a folhagem lustrosa lembra o aço polido.


Volúpia do vento morno do verão,
carregado de odores excitantes,
como um corpo de mulher adolescente,
de mulher que espera o momento do amor...

Volúpia do vento noturno em minha terra natal!


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.173. (Manancial, 44)

Primeiro dia – 13 de fevereiro

· Graça Aranha, líder oficial do movimento e membro da ABL, profere palestra A emoção estética na Arte Moderna, ilustrada por uma peça musical de Eric Satie (paródia irreverente da Marcha Fúnebre, de Chopin, executada ao piano por Ernâni Braga.

· Declamação de poemas modernistas por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.

· Ronald de Carvalho fala sobre A Pintura e a Escultura Moderna no Brasil, seguido de solos de piano interpretados por Ernâni Braga, além de três danças africanas, de Villa Lobos.

· Guiomar de Novaes, considerada uma virtuosa no piano, reclama da sátira de Choppin .

Segundo dia – 15 de fevereiro

Todos esperam algazarra, reação contrária do público. Menotti del Picchia, em seu discurso, prevê que os conservadores desejam enforcá-los um a um, nos finos assobios de suas vaias, mas assim mesmo ele desfia o ideário do grupo em sua fala.

Em represália às vaias, Ronald de Carvalho declama o poema Os Sapos, de Manuel Bandeira.

OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.

· Municipal estava aberto desde o início da tarde para o público visitar a mostra de artes plásticas e arquitetura, montada no saguão do Teatro. Diante das telas a reação dominante foi o choque e a indignação. Também as esculturas de Brecheret não mereceram do “respeitável público” outro comentário que não fosse a crítica intolerante e preconceituosa.

Apresentação de dança de Ivonne Daumerie e com a apresentação de Guiomar Novaes “querida pela platéia paulista”, fez-se o silêncio. A vaia retoma quando Mário de Andrade, em pé na escadaria interna do Teatro Municipal, lê algumas páginas de A Escrava que não é Isaura, esboço de um futuro trabalho sobre poética moderna.

A 2ª parte do segundo festival programou uma conferência do folclorista e crítico musical Renato de Almeida: Perennis Poesia, retumbante gozação ao culto das rimas ricas, à poesia de fita métrica, escrita em rançosa linguagem lusitanizante.

Quando Heitor Villa-Lobos, como bom maestro, entra no palco usando a devida casaca, mas arrastando chinelos e um guarda-chuva como bengala, o público volta a latir, indignado com o acinte desta atitude futurista. E não era nada disso: casualmente, o compositor fora atacado de ácido úrico nos pés e não podia calçar sapatos.

Último dia – 17 de fevereiro

A tranqüilidade prevaleceu, com apenas metade do público aplaudindo o programa musical, baseado num repertório já conhecido de Villa-Lobos.

A SEMANA DE ARTE MODERNA



A Semana de Arte Moderna de 22, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, contou com a participação de escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos.



Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.



A produção de uma arte brasileira, afinada com as tendências vanguardistas da Europa, sem contudo perder o caráter nacional, era uma das grandes aspirações que a Semana tinha em divulgar.


Os anos precursores

A enumeração de alguns eventos que direta ou indiretamente motivaram a realização da Semana:
1911 – Publicação do jornal O Pirralho (caricaturas e irreverências), sob a direção do paulista Osvald de Andrade e do paranaense Emílio de Menezes.
1912 – Oswald de Andrade retorna da Europa, impregnado do Futurismo de Marinetti, e afirmando que “estamos atrasados cinqüenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo”.
1913 – Lasar Segall, pintor lituano, realiza “a primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso país”, nas palavras de Mário de Andrade.
1914 – Primeira exposição de pintura de Anita Malfati, que retorna da Europa trazendo influências pós-impressionistas.
1915 – Organização da revista Orpheu, com manifestos e poemas do Modernismo português, por Luís de Montalvor, chanceler da Legação Portuguesa, e Ronald de Carvalho, futuro participante da Semana.
1917 – Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os dois grandes líderes da primeira geração de nosso Modernismo, tornam-se amigos.

Publicação de Há uma Gota de Sangue em cada Poema; livro de poemas de Mário de Andrade, que utilizou o pseudônimo Mário Sobral para assinar essa obra pacifista, protestando contra a Primeira Guerra Mundial.

Publicação de Moisés e Juca Mulato, poemas regionalistas de Menotti del Picchia, que conseguem sucesso junto ao público.

Publicação de A Cinza das Horas, de Manuel Bandeira.

Segunda exposição de Anita Malfati, exibindo quadros expressionistas, criticados com dureza por Monteiro Lobato, no artigo Paranóia ou Mistificação, publicado no jornal O Estado de S. Paulo.
1919 – Publicação de Carnaval, de Manuel Bandeira, já com versos livres.
1920 – Oswald de Andrade descobre Victor Brecheret, escultor que se aperfeiçoara em Roma e que expõe a maquete do Monumento às Bandeiras, entusiasmando os jovens intelectuais.
1921 – Banquete no palácio do Trianon, em homenagem ao lançamento de As Máscaras, de Menotti del Picchia. Oswald de Andrade faz um discurso, afirmando a chegada da revolução modernista no Brasil.

Exposição de quadros de Vicente do Rego Monteiro, em Recife e no Rio de Janeiro, explorando a temática indianista.

Mostra de desenhos e caricaturas de Di Cavalcanti, denominada Fantoches da Meia-Noite, na cidade de São Paulo.

Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Mário de Andrade divulgam o Modernismo em revistas e jornais.

Oswald de Andrade publica um artigo sobre os poemas de Mário de Andrade, intitulando-o O Meu Poeta Futurista. A partir de então, apesar da recusa de Mário de Andrade em aceitar a designação, a palavra futurismo passa a ser utilizada indiscriminadamente para toda e qualquer manifestação de comportamento modernista, em tom na maioria das vezes pejorativo. Em contrapartida, os modernistas chamam de passadistas os defensores da tradição em geral.



Como foi a Semana e sua repercussão

· Correio Paulistano publicou a notícia, em 29/01/1922, divulgando a realização da Semana, em tom neutro.

· Em 22/2/1922, o jornal A Gazeta publicou notícia sobre a realização da Semana em tom crítico.

· Comissão organizadora: Paulo Prado, Alfredo Pujol, Oscar Rodrigues Alves, René Thiollier.

· Participantes:

Música: Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes e Ernâni Braga.
Literatura: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Menotti del
Picchia, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado, Sérgio Milliet, Afonso Schimidt, Graça Aranha.
Pintura: Anita Malfati, Di Cavalcanti.
Escultura: Victor Brecheret
· Teatro Municipal, cujo público burguês e aristocrático se acostumara às operas estrangeiras, transformaou-se em palco de momentos de algazarra e de total confusão que configuram o “choque” provocado pelos modernistas.

CARACTERÍSTICAS DO AUTOR E SUAS OBRAS








Simbolista e parnasiano, nos primeiros livros, e modernista nos subseqüentes, deixou em todos a marca da cor, da luminosidade fulgurante, realizando uma poesia gráfica e nítida. Andrade Murici classificou-o como um humanista da boa tradição greco-latina. Espírito da renascença fecundado por um tropicalismo verbal. Escreveu ora poemas concisos e diretos, ora peças plenas de força, dinamismo e efusão que desbordavam pelo retórico e pelo grandiloqüente.

Assim são "Epigramas Irônicos e Sentimentais" e "Toda a América", os livros mais expressivos de sua obra poética moderna. Nesta última obra, de versos amplos, de ritmos libérrimos, e de acentos que remontam a Walt Whitman e Verlaine, vale-se de um "sincretismo poderoso em que a América surge como um mundo de energias virgens e crepitantes" - na frase de Tristão de Ataíde.

Há, em "Toda a América" um "uso intenso de metáforas e um paroxismo que faz pensar nas pulsações da febre", repara Agripino Grego. Observe-se, no entanto, que a nota pan-americana de Ronald de Carvalho corresponde a uma transposição ao plano continental do espírito nacionalista da "Poesia Pau Brasil", inventada por Oswald de Andrade, e cujos versos, ao contrário dos do autor carioca, vinham caracterizados pela síntese e pela secura da linguagem.
Em Ronald havia o predomínio da inteligência sobre a emoção. Sob o signo do cálculo, compôs seus versos. Daí praticar "uma poesia de supercivilizado", como acertadamente registra Vinícius de Morais.

Ronald participou ativamente dos embates modernistas em torno da renovação poética brasileira.
No campo da literatura, além de poesia, Ronald de Carvalho dedicou-se aos ensaios, à crítica literária, e aos estudos de história da literatura.
As obras de maior destaque nesses campos foram: Espelho de Ariel (1923) - Critica literária;Pequena história da literatura brasileira (1919)
Alguns poemas em destaque:
  • O Mercador de Prata, de Ouro e Esmeralda
  • Epigrama
  • Uma noite em Los Andes
  • Sabedoria
  • Brasil
  • Luz Gloriosa (1913)
  • Pequena História da Literatura Brasileira (1919)
  • Poemas e Sonetos (1919)
  • Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922)
  • Toda a América (1926)

VIDA



FILHO DO ENGENHEIRO naval Artur Augusto de Carvalho e de Alice Paula e Silva Figueiredo de Carvalho, Ronald de Carvalho nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 16 de maio de 1893.

No ano de 1899 inicia o curso secundário no Colégio Abílio (Rio de Janeiro), formando-se em 1907. No ano seguinte, ingressa no curso de Direito da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, formando-se bacharel no ano de 1912. Nessa época já colaborava com a revista “A Época” e com o jornal "Diário de Notícias", de Rui Barbosa.

Em 1913 vai para Paris estudar Filosofia e Sociologia. Nessa cidade faz sua estréia literária com a publicação da obra "Luz gloriosa", que mostra uma forte influência de Charles Baudelaire e Paul Verlaine.

No ano de 1914 começa a exercer atividades diplomáticas e se estabelece em Lisboa - Portugal. Conhece então os membros do grupo modernista desse país e, em 1915, já integrado a esse grupo, participa do lançamento da revista "Orpheu", marco inicial do modernismo português.
De volta ao Brasil, publica, em 1919, a obra "Poemas e Sonetos" que revela certo contato com a estética parnasiana.

A experiência de fincar o marco inicial do modernismo em Portugal parece ter agradado a Ronald de Carvalho, pois em 1922 participou ativamente da SAM (Semana de Arte Moderna), marco inicial do Modernismo no Brasil.

Na noite de 15 de fevereiro, segundo dia da SAM, Ronald de Carvalho causa o maior escândalo ao declamar o poema "Os Sapos", de autoria de Manuel Bandeira. Isso ocorre porque o poema satiriza violentamente a poesia e, sobretudo os poetas parnasianos, que são comparados a sapos coaxando.

Depois da sua participação explosiva na SAM, Ronald dá novos rumos sua poesia; ainda em 1922 publica "Epigramas irônicos e sentimentais"; dois anos depois, é vez de "Toda a América". Nesta última obra percebe-se que o poeta está sob forte influência de Walt Whitman, pois seus versos agora são amplos e com ritmo livre.

Em
1924, dirigiu a Seção dos Negócios Políticos e Diplomáticos na Europa. Durante a gestão de Félix Pacheco, esteve no México, como hóspede de honra daquele governo. Em 1926, foi oficial de gabinete do ministro Otávio Mangabeira. Exerceu cargos diplomáticos de relevância, servindo na Embaixada de Paris, com o embaixador Sousa Dantas, por dois anos, e depois em Haia (Países Baixos). Retornou a Paris, de onde, em 1933, foi removido para o Rio de Janeiro.

Foi secretário da Presidência da República, cargo que ocupava quando morreu. Em concurso realizado pelo Diário de Notícias, em 15 de fevereiro de
1935, (vítima de acidente automobilístico, ocorrido em 19 de janeiro), foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em substituição a Coelho Neto. Colaborou, com destaque, em O Jornal. Casou com Leilah Accioly de Carvalho, com quem teve quatro filhos.